Mestrado Sanduíche (Aracaju - Itabaiana).
Crônica 01: Mostrando o contexto.
Um táxi lotação. Um corsa sedã. Seis passageiros. O taxista, a senhora, a moça com uma criança de colo e eu. A sexta pessoa era a esposa do taxista, que só descobri que esta ali conosco, quando tentei sentar no banco da frente. O taxista - muito simpático - olhou para mim e disse "ô meu jovem, faz um favor para este velho taxista?"... Prontamente digo que claro e ele dispara "você poderia ir atrás, porque minha mulher esta sentada aí". Olho para o taxista, olho para a cadeira vazia, volto a olhar para o taxista e respondo cordialmente "é claro, amigão". E a situação 'melhorou' ainda mais, quando a frágil senhora me perguntou: "moço você se importa de me deixar na janelinha?". Olho para o banco de trás, vejo que a moça com a criança já estava sentada na outra janelinha. Noto que me restava apenas o meio. Volto a olhar para a senhora e digo educadamente: "imagina, fica a vontade".
Crônica 02: Iniciando uma conversa.
"Tô gorda. Tô suando muito. É o remédio para emagrecer", diz a mulher tentando puxar assunto. Interajo com apenas um olhar. A moça insiste "eu era da sua grossura, acredita?". Penso que sim, mas não verbalizo. Quando de repente ouço uma voz vindo do meu lado direito. "Mulé, você tá gorda", disse a senhora. A moça continua "emagreci 20 kg. Estava pesando 144 kg". "Você precisa perder uns 70 kg ainda, não é moço?", disse a senhora me cutucando. Arregalo os olhos calado e a moça alivia a minha barra. "É ansiedade, o estresse sabe? Minha médica disse que é isso ... (segundos de pausa e ela conclui) deve ser meus filhos". Volto a interagir com um olhar surpreso. A senhora do canto dispara "filho é uma benção, mulé". A moça informa o número de filhos. "tenho sete". A senhora se cala e diz "É ... então deve se um inferno mesmo". Interajo com um novo olhar surpreso pela última vez.
Crônica 03: O amor - Parte 1.
(Ainda no lotação) A senhora pergunta ao taxista "sua mulé esta aí mesmo?", falando e me cutucando meu braço. O taxista responde "ela é a luz do sol que ilumina meu dia". Na minha cabeça forma aquela enorme interrogação. A moça, com a criança, solta um riso, que naquele momento surreal penso na possibilidade de ser uma hiena. A senhora 'simpática" completa "amor é isso, várias vidas amando, não é moço?", perguntando para mim. Olho para a senhora, depois para o banco vazio e por fim para o taxista e confirmo a pergunta "com certeza".
Crônica 04: O amor - Parte 2.
(Ainda no lotação) O taxista encara a moça, que carrega a criança no colo, pelo retrovisor e pergunta "a senhora é casada?". A moça enche a boca e responde, "sim, pela segunda vez". A senhora do canto fala "mulé, que vida é esta? isso é coisa de mulé sem princípios matrimoniais. Amor é compartilhar, renunciar e respeitar". A moça com a criança no colo se defende "mas o primeiro me batia muito, quando bebia". Giro minha atenção para aquela moça dos 7 filhos, que apanhava do ex-marido. A senhora do outro canto emenda "se meu amor, encostar o dedo em mim, quando ele dormir eu TORO ele". Levo minha mão até meu rosto e coço o nariz tentando esconder o riso. O taxista que ouvia tudo - oportunamente - pergunta "a senhora vai capar seu marido?". A senhora prontamente responde, "capo, faço um buchinho e tomo com pitú". Arregalo os olhos. A senhora vira para mim e me pergunta "não tô certa, moço?". Percebo a placa que indicava 10 km para chegar ao destino passando e respondo "sim senhora, esta certíssima".
Crônica 05: Quando tudo que você aprendeu na escola, não serve para nada.
(Ainda no lotação) Os primeiros a saírem do lotação foram a moça e a criança. Fecha-se a porta e continuamos o restante da viagem. A simpática senhora puxa assunto "num sei como ela vive sendo ignorante. Eu, sai de casa bem novinha. A única coisa que meu pai me disse foi para não lhe dá nenhum DIsgosto. Minha mãe não gostava da ideia e só dizia que ia viver na farra". O taxista vida um pouco a cabeça e pergunta, "e a senhora farreava muito?". A senhora responde com um risinho maroto e uns tapinhas em meu ombro "ôôô .... fiz minhas festinhas, mas não dei DIsgosto para meu pai". Contraio as sobrancelhas e mando um "que bom" estratégico. A senhora olha para mim e finaliza "voltei intelectual, culta, é difícil resistir a esta 'liberdadagem" toda, né?". Giro o punho com a palma aberta e dando ao mesmo tempo - com os ombros, enquanto olho para a senhora e a respondo "ôôô".
Fernando Diz